terça-feira, 19 de outubro de 2010

Renata - História

Cap. 1 - Renata e suas coisas.

Sol na janela.



"O vento lá fora me lembra a vista da serra. Hoje tenho saudades do tempo que não vivi, de pessoas que não conheci. Neste meu mundo distante pouco coisa eu conheço."










Renata é uma menina que vive em uma sala acolchoada dentro de si mesma, que colocou sua própria camisa de força. Não conhece seu reflexo, não deseja conhece-lo...

"Tudo bem que mundo seja esta merda, mas, por que sempre o balde cai em cima de mim?!" - Esse é o pensamento que Renata tinha ao ir para o trabalho, todos os dias... sabe as horas incontáveis que você paga a rotina diariamente, horas que te sustentam fisicamente e destroem psicologicamente, essa era a tortura de Renata. Condenada a uma masmorra "high tech", aonde tudo era a mesma coisa, sempre...

Bate o cartão... fala Bom Dia... café com pão... sobe... liga PC... arruma a mesa... analisa... responde... planilha... reunião... analisa... responde... envia.... e-mail supostamente 'engraçado'... ri 'mecanicamente'... analisa... almoço... banheiro... café... analisa... responde... analisa... responde... horas... 16:37hrs.... não passa... analisa... cumprir metas... "amanhã eu não venho" - consciencia 'pró-mente' ao corpo para que suporte este dia... analisa... acelera... 17:55hrs... esta na hora... desliga tudo... arruma a bolsa... corre para bater o cartão... sente o vento... sorri... e sai...

E derepente o sorriso mucha no rosto, Renata percebe que esta na rua... se priva do sorriso externo, permanece com o sorriso interno, coisa que aprendeu com a própria mãe.

- " Menina, esta parecendo louca! Que história é essa de sorrir do nada?! Tenho cara de dentista?!".

 Desde então Renata descobriu que gosta mais da sua sala acolchoada, do que o mundo de estranhos que estão a sua volta.

No caminho para casa as luzes na cidade mostram para a Renata a beleza do urbano, está ai uma coisa que Renata admira neste "Frankenstein de concreto e sangue", o olhar que ele te ensina a ter sobre as pequenas coisas da vida... uma mãe feliz em buscar seu filho na creche, um grupo de amigos andando, o cansaço e a felicidade estampadas no rosto do pai e da mãe que voltam do trabalho, a conversa dos adolescentes, o movimento... Um dia Renata quis conversar sobre o que via, em troca da conversa ouviu risos...

-" Você é louca, felicidade é outra coisa... inalcançável!" 

Neste dia Renata percebeu que nem dentro da sala certas coisas podem ser ditas... neste dia colocou uma amarra na boca e nas idéias.

A chuva no caminho... o frio sempre foi amigo, uma grande desculpa para os outros... um motivo para ficar em casa sem falsa culpa por algum tempo. Um motivo para escrever, para colocar as idéias para fora, mesmo que a boca esteja tampada,a escrita vence a oralidade. Um dia na escola Renata perdeu suas folhas e junto com elas o amor pelas suas idéias, sua idéias foram furtadas e ganharam a disputa. O coração dele não era mais dela. Renata viu a conversa entre seu amado e a ladra.

- É para mim? Surpreso, responde o menino dos olhos misteriosos.
- Sim, é para você! Respondeu a moça falsa.

Depois disso Renata percebeu que nem todos são confiáveis, que seus abraços deveriam ser mais retritos. Colocou sua camisa de força até aprender a não gostar de contato com ninguém.

Esta é Renata, e agora vou te falar das coisas dela.

Um abajur de porcelana, tão antigo quanto luz. Ficava ao lado da cama, em um criado mudo. Era de porcelana com desenhos florais, tinha pano envolta da luz com nos modelos antigos era largo e a cor do pano já deixou de ser branca a muito tempo, esta entre o amarelo ou bege... ele era uma lembrança querida, de sua vizinha já falecida... Dona Leopoldina.

Uma estante de madeira que abrigava os livros de Renata. Era grande, 2mx2m, ganhou de presente de seu pai. Era o maior objeto da casa dela, e era o mais estranho.

- Esta estante é sua Renata, porque se parece com você. Disse o pai de Renata antes de ir embora...

Um caderno de couro. Capa marrom e dobravel. Foi o primeiro item que Renata comprou quando se viu sozinha em São Paulo... deu um gosto de liberdade que ela precisa expressar...

E por fim seu último objeto. Um liquido precioso em pequeno frasco lilás...citrico e leve.Um perfume chamado "Giz-lene" que não é mais fabricado... a avó Maria, uma italiana robusta por fora e amavél por dentro, não está mais entre nós.

3 comentários:

Lou Medeiro disse...

Que legal prê!!^^
Ótima ideia essa de escrever um conto, deixa a gente entusiasmada!!
Tô ansiosa pra ver a continuação..!!

Perfume "Giz-lene"....

....
Peculiar, eu diria..
XDDDDDDDDDDD

Beijos preta!!

Jhon disse...

Vc deveria se aperfeiçoar na escrita de livros sabia?vc leva jeito^^

Marcos Ferri disse...

Você me surpreendeu!
Seu melhor texto, sem dúvida nenhuma.
É intimista e um conto de primeira. Lembra-me algo que li do saudoso Caio Fernando de Abreu. Instiga, faz pensar. E melhor; é ficção real. Sei lá, um misto de entoação real numa personagem ficcional.

Genial

Parabéns!